Museu dos Transportes e Comunicações

Máquina de criptografia

A cifra Enigma e as mensagens confidenciais

17 de julho, 2015
Máquina de Cifra TSEK KL7 | © Exército Português
Máquina de Cifra TSEK KL7 | © Exército Português

A quebra por criptanalistas ingleses da cifra Enigma, utilizada nas mensagens secretas das tropas alemãs, poderá ter antecipado em 2 anos o fim da 2.ª Guerra Mundial.

É muito antiga a necessidade de enviar mensagens confidenciais. Seja por razões militares, diplomáticas, políticas, seja porque se quer transmitir algum segredo industrial, financeiro ou pessoal, os códigos secretos – também apelidados de cifras – são uma peça essencial da comunicação sigilosa.

A disciplina que trata da construção e análise de cifras denomina-se criptologia. Tem 2 aspetos intimamente ligados: o desenho de cifras, a que se chama criptografia, e o desenvolvimento de métodos para quebrar uma cifra, que consiste em decifrar textos codificados – os criptogramas – sem o conhecimento da respetiva chave secreta: a criptanálise.

Ao longo da história são vários os episódios que ilustram a importância da criptografia. No século XVI, uma mensagem secreta de João da Áustria para Filipe II de Espanha, com planos para a invasão da Inglaterra, é decifrada pelo criptanalista holandês Philip van Marnix. Após a revelação de outras cifras espanholas pelo matemático francês François Viete, Filipe II apresenta queixa ao Vaticano referindo que para alcançar tal êxito os franceses só poderiam estar a usar “magia negra”. O Vaticano, cujos criptanalistas tinham há muito decifrado as cifras espanholas, confirma uma vez mais a fraqueza das mesmas.

Um período de grande desenvolvimento da criptografia ocorreu com a utilização do telégrafo e posteriormente da telegrafia sem fios ou rádio.
Durante a 1ª Guerra Mundial o telegrama de Zimmerman de 1917 propõe ao México contrapartidas para este se tornar país aliado dos alemães face à iminência da entrada dos EUA no conflito. O telegrama foi criptanalisado por ingleses e constituiu-se como um importante fator que conduziu os EUA a fazer parte ativa desta guerra.

A história da criptografia do século XX ficou estreitamente associada à cifra utilizada pelas tropas nazis durante a 2ª Guerra Mundial. Enigma foi simultaneamente designação da cifra e da máquina elétrica que a produzia. A complexidade da cifra levou à reunião de uma equipa de criptanalistas na mansão de Bletchley Park (90 km de Londres). Os criptogramas dependiam da ordem e posição inicial dos respetivos rotores, que constituíam a chave secreta que era alterada diariamente, mas a equipa de Bletchley Park, entre os quais se destacou o matemático Alan Turing, conseguiram descodificar a cifra Enigma acedendo apenas às mensagens secretas intercetadas. Segundo especialistas, a leitura destas mensagens permitiu descobrir muitos planos alemães e poderá ter poupado 2 anos de conflito.
Com o surgimento dos computadores, e mais recentemente da Internet, a criptografia assistiu a uma cada vez maior utilização por parte da sociedade civil para tornar mais seguras comunicações e transações que se desejam confidenciais, como é exemplo o acesso ao banco via Internet.

A utilização crescente de protocolos criptográficos complexos tornam praticamente impossível decifrar os códigos secretos associados. Para se ter uma ideia da dificuldade associada, a descodificação de certos códigos secretos hoje usados, como a chamada cifra RSA, necessitaria da utilização de todos os computadores que existem durante milhares de anos, usando os ataques mais sofisticados que são conhecidos. No caso de se tentar a descodificação pela digitação aleatória de números, tentando assim determinar a chave secreta, a probabilidade de acertar é equivalente à de se ganhar 76 vezes consecutivas no Euromilhões jogando uma aposta de cada vez.

Na exposição COMUNICAR, a qual contribui para a reflexão sobre um tema tão central no mundo em que vivemos e na vida de cada um de nós: a comunicação, o núcleo dedicado à mensagem aborda o tema da criptografia como fundamental para a segurança da comunicação e integra a Máquina de Cifra TSEK KL7 (E.2012.15.1). Fabricada nos EUA em 1950 é uma máquina criptográfica eletromecânica, leve e portátil. Operada por um teclado pode cifrar ou decifrar mensagens até uma velocidade de 60 palavras por minuto, sendo os textos impressos numa fita de papel gomado. Peça do espólio do Museu do Criptólogo, foi cedida pelo Centro de Segurança Militar e Informações do Exército no contexto da parceria estabelecida com o Exército Português.

O Museu dos Transportes e Comunicações abre de terça a sexta, das 10h às 13h (entrada até às 12h) e das 14h às 18h (entrada até às 17h), e aos sábados, domingos e feriados, das 15h às 19h (entrada até às 18h).

Este texto foi adaptado a partir de conteúdos existentes na exposição “COMUNICAR”, da autoria de António Machiavelo.

Artigo publicado no Jornal online “Porto 24”, em 5 de Novembro de 2014
http://www.porto24.pt/memoria/maquina-de-criptografia/