Museu dos Transportes e Comunicações

Óbus com desenho da Bandeira Nacional

4 de outubro, 2016
Óbus - peça de artilharia | © Arquivo AMTC
Óbus - peça de artilharia | © Arquivo AMTC
A peça de artilharia disparada na Rotunda, durante a revolução republicana, serviu de tela para a representação da nova bandeira.
No dia 4 de outubro de 1910 foram vários os grupos de revoltosos republicanos que se barricaram no centro de Lisboa nomeadamente na Rotunda, Avenida da Liberdade, Praça dos Restauradores e Rossio.
 
Machado dos Santos tornou-se mesmo o “herói da Rotunda”, chefiando e mantendo a resistência no alto da Avenida da Liberdade, rodeado de militares e civis armados. António José de Almeida, que viria a ser Presidente na I República, coligiu num caderno vários relatórios detalhando todo o movimento revolucionário do mês de outubro de 1910. Hora a hora, minuto a minuto, os acontecimentos são descritos com pormenor bem como o envolvimento de alguns dos seus intervenientes, como Cândido dos Reis, Afonso Costa, Miguel Bombarda, João Chagas, Machado Santos, entre outros.

Depois dos confrontos armados do dia 4, a República foi proclamada a 5 de outubro pelas vozes de José Relvas e Euzébio Leão na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa.
A peça de artilharia aqui em destaque foi disparada na Rotunda (atual Marquês de Pombal), em Lisboa, durante as movimentações. Mais tarde foi oferecida por Alfredo Antunes como recordação da vitória das forças revolucionárias e da implantação do novo regime ao sexto Presidente da República, António José de Almeida, que exerceu funções entre 1919 e 1923.

Na superfície do obus foi pintada a nova bandeira, símbolo do novo regime. Esta bandeira foi concebida por uma comissão especialmente constituída para esse efeito, da qual fez parte o pintor Columbano Bordalo Pinheiro. A proposta inicial foi sucessivamente alterada sendo o desenho final retangular, com os dois quintos próximos da haste com a cor verde e os três quintos, do lado do batente, com a cor vermelha . A cor verde foi escolhida por ser a "cor da esperança", e o vermelho por ser uma cor "combativa, quente, viril, por excelência". Na união das duas cores, apõe-se o escudo das armas nacionais, rodeado a branco, sobre a esfera armilar manuelina, símbolo do génio aventureiro dos portugueses, e o escudo das quinas, em representação da fundação da nacionalidade.

A par da bandeira adoptou-se também um novo hino nacional, “A Portuguesa”, com música de Alfredo Keil e letra de Henrique Lopes de Mendonça.
Apesar do sentimento de esperança e progresso proporcionado pela implantação do novo regime, a I República viveria anos conturbados pautados por crises políticas e financeiras, sucessivos governos provisórios e instabilidade na Presidência da República, com mandatos breves e interrompidos, refletindo a instabilidade geral. Em 1926 um golpe militar ditou o fim da I República e o dealbar de um novo regime político, de pendor ditatorial, que se prolongou por quase 50 anos.


Artigo publicado no Jornal on-line Porto 24 – 06.10.2014 - http://www.porto24.pt/memoria/obus-com-desenho-da-bandeira-nacional/