Museu dos Transportes e Comunicações

A máquina de escrever

de Manuel António Pina

2 de janeiro, 2015
Máquina de escrever de Manuel António Pina | © Arquivo AMTC
Máquina de escrever de Manuel António Pina | © Arquivo AMTC
Fabricada pela Continental na década de 30 do século XX, a máquina de escrever de Manuel António Pina é o destaque de Dezembro no Museu dos Transportes e Comunicações.

 











“(…) há um espaço enorme, uma imensidão, entre nós e as palavras, que é ocupado por coisa nenhuma. E quando nós tentamos ultrapassá-lo, só num ato de amor é possível ir ao encontro delas e deixar que elas venham ao nosso encontro.”

Manuel António Pina natural do Sabugal, Guarda (18 de novembro de 1943) vem para o Porto com 17 anos, tendo aqui vivido mais de 50 anos. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu a advocacia e foi técnico de publicidade antes de enveredar pelo jornalismo. Faleceu no Porto a 19 de outubro de 2012. Completaria, no passado dia 18 de novembro, 71 anos.

Autor de poesia e de literatura infanto-juvenil, afirma-se como uma das vozes nacionais de maior originalidade no uso da palavra e construção de jogos de imaginação, tendo sido galardoado em 2011 com o Prémio Camões, entre tantos outros prémios com que a sua obra foi sendo homenageada. Manuel António Pina foi ainda jornalista e editor do Jornal de Notícias. Em entrevista à Revista Pública (abril de 2009) indica a sua longa relação com os jornais: “(…) não havia livros, mas o meu pai todos os dias, quando vinha da repartição, levava o jornal para casa. Aprendi a ler nos jornais.”
Enquanto autor de literatura para a infância a sua obra destaca-se no panorama nacional e reflete a influência de Lewis Carroll ao brincar com as palavras e os conceitos num jogo interminável e marcado pela imaginação. Ainda na entrevista à Revista Pública confirma o seu encantamento com Winnie The Pooh: “É um dos meus livros de referência. Nós somos o que lemos, e eu, não sei se sou alguma coisa ao Winnie The Pooh, mas gostava de ser…”.

Ao longo dos anos os seus textos inspiraram mais de duas dezenas de produções teatrais, programas de fição e entretenimento para a televisão, produções cinematográficas ou a exposição de cinquenta desenhos de Alberto Péssimo (Galeria Labirinto, Porto, 1992) inspirada no poena “Farewell Happy Fields”.
A máquina de escrever de Manuel António Pina (fabricada pela Continental (Alemanha) na década de 30 do século XX, com teclado hcesar) – peça aqui em destaque – um vídeo com excertos de entrevistas do autor, o seu poema “Todas as Palavras” e alguns “rascunhos” originais integram desde 18 de novembro de 2014 a exposição COMUNICAR no contexto da parceria estabelecida entre o Museu dos Transportes e Comunicações e a Companhia de Teatro Pé de Vento, C.R.L.
A integração deste espólio enquadra-se plenamente na exposição COMUNICAR.
Comunicar é uma necessidade antropológica de interação do ser humano com o seu semelhante e com o meio que o envolve, num processo de abertura e desafio na descoberta do Outro, como nas invenções tecnológicas que permitem sempre que a mensagem chegue mais longe e mais depressa. Mas a mensagem, apesar de multiforme e omnipresente, não é por si mesma a comunicação, apenas adquirindo sentido numa relação onde têm igual importância a voz e o silêncio, o corpo que fala, as palavras… todas as palavras. Nas palavras do próprio Manuel António Pina podemos escutar: “… todos os poetas ambicionam regressar à infância (…). (…) porquê? (…) por essa capacidade de ver as coisas pela primeira vez e, no caso das palavras, dizer as coisas pela primeira vez, com uma inocência linguística (…) que é divertida, quase comovente.”

Neste contexto, a Alfândega, porta da cidade e link de uma rede alargada ao mundo, reforça-se como Casa da Comunicação, espaço de cultura, síntese de experiências e vivências várias onde destacamos, a partir de agora, o encontro com a voz e as palavras de Manuel António Pina. E é nas próprias palavras do poeta que ecoa este eterno (re)encontro entre o homem e a cidade: “O Porto, a própria cidade, funciona também um pouco assim, em termos simbólicos, como casa.” “(…) como se eu fosse fazendo a cidade também à minha medida e eu próprio me fui fazendo à medida do Porto.”

Ficha técnica
Máquina de escrever de Manuel António Pina. D.2014.16.1
Marca Continental, fabricada na Alemanha. Teclado hcesar. Década de 30 do século XX.

Artigo publicado no Jornal online "Porto 24", em 20.12.2014 - http://www.porto24.pt/memoria/maquina-de-escrever-de-manuel-antonio-pina/