Museu dos Transportes e Comunicações

Os Hipomóveis da Monarquia

3 de junho, 2016
Área da exposição
Área da exposição "O motor da Repúlica: os carros dos Presidentes" onde se encontram os 4 hipomóveis pertencentes à República Portuguesa | © Arquivo AMTC
O hipomóvel Clarence, peça em destaque, foi encomendado pela Casa Real e posteriormente utilizado pela Presidência da República, como testemunha a pintura da esfera armilar nas portas.
Com a implantação da República em 5 de outubro de 1910, os Presidentes, legítimos representantes do Estado, e à semelhança do que acontecia com os monarcas, careciam da disponibilização de meios de transporte para o exercício das suas funções. O espírito de maior austeridade, subjacente ao jovem regime, impõe, desde logo, restrições e regras para a utilização de carruagens. Ao Presidente do Governo Provisório, Teófilo Braga, é cedida uma carruagem herdada da Casa Real onde é aposta a esfera armilar. Só mais tarde, depois de instalada a Presidência da República no Palácio de Belém, é criado o serviço de Equipagens e constituída uma pequena frota de viaturas hipomóveis para o serviço do Presidente.

O hipomóvel Clarence, peça em destaque no momento em que se assinala o 105º aniversário da implantação da República, foi encomendado pela Casa Real e posteriormente utilizado pela Presidência da República, como testemunha a pintura da esfera armilar nas portas.

A caixa tem dois lugares principais e banqueta suplementar, apresentando cinco janelas com estores de rolo em cetim. No rodado, molas elípticas à frente e semi-elípticas com cruz na traseira e pneus de borracha, dão maior comodidade aos passageiros. O banco do cocheiro, solidário com a caixa, é mais elevado e apresenta do lado direito travão de disco. Era puxado por dois cavalos.

O nome desta viatura citadina, com capacidade para três passageiros, tem origem no Duque de Clarence, rei de Inglaterra – Guilherme IV – entre 1830 e 1837. Este veículo tem a estrutura de uma berlinda em que se substituiu a parte da frente da caixa por vidraças retangulares ou circulares tornando a sua aparência mais ligeira. A sobriedade da caixa contrasta com a exuberância do interior, decorado com tecidos de luxo nos estores e nos bancos. Construída pelo fabricante francês Binder é um exemplo desta classe de veículos que marcaram a rotina de todo o século XIX e início do século XX.

É justamente no período da I República que o automóvel vai progressivamente ganhando importância, substituindo os hipomóveis e conquistando as ruas e estradas do país. As vias de comunicação ganham, por esta via, novo impulso. A par da linha férrea, também o mapa das estradas se alarga e estende a todo o território. O automóvel torna-se então o motor da República.

O núcleo museológico “O motor da República: os carros dos Presidentes” é o resultado de uma consciencialização de que as viaturas aqui presentes se constituem como património histórico, razão pela qual não mais são alienadas, passando a integrar a coleção do Museu da Presidência da República assim que terminam o seu período de serviço.

O Clarence, bem como outro diversificado espólio patrimonial (ofertas a Presidentes da República, correspondência, condecorações civis e militares, cartazes) cedido pelo Museu da Presidência da República integra o núcleo “O motor da República: os carros dos Presidentes”. Neste projeto, resultante de uma parceria estabelecida entre aquele Museu e o Museu dos Transportes e Comunicações, as viaturas (hipomóveis e automóveis) que serviram a Presidência da República Portuguesa desde 1910 até ao mandato de Jorge Sampaio permitem, pelo seu valor histórico e museológico, uma viagem em movimento pela história contemporânea de Portugal que atravessa os três períodos da República: a 1ª República, o Estado Novo ou Ditadura e a Democracia. Após uma primeira exposição temporária concretizada, também em parceria em 2006, o Museu dos Transportes e Comunicações acolhe, desde 18 de maio de 2013, este núcleo museológico agora em permanência.

Ficha Técnica
Hipomóvel Clarence – viatura de cidade com capacidade para 3 passageiros
Fabricante Binder, França, Século XIX
Coleção Museu da Presidência da República – nº inv. D.2013.2.

Artigo publicado no Jornal on-line Porto 24 – 15.10.2015 - http://www.porto24.pt/memoria/hipomoveis-da-monarquia-protagonizaram-transicao-para-republica/ ​