Novela Aduaneira XIV
Setembro 1871
1 de fevereiro, 2021

Mala com chave, Coleção Aduaneira in exposição “Metamorfose de um Lugar: Museu das Alfândegas” © Arquivo AMTC
“Os jornais deste mês travaram uma questão singular. Acusava-se este facto: a Srª. D. Eugénia de Montijo, ex-imperatriz dos Franceses (por um crime de seu marido), atravessa Lisboa para ir ver a Espanha os antigos paraísos da sua antiga mocidade; e o Governo expedira à Alfândega uma portaria galante, para que não fossem revistadas as bagagens de sua excelência!
A isto respondiam algumas gazetas negando esta portaria mas lembrando uma outra pela qual são isentas das indiscrições fiscais as bagagens em trânsito, e afirmando que os baús ex-imperiais, tinham passado rapidamente, sem curiosidade da Alfândega para a Estação de Santa Apolónia.
Se o privilégio se deu, o privilégio não nos escandaliza. E, todavia, temos visto bastantes vezes, estendidas nos balcões da Alfândega, numa desordem impiedosa, toda a traparia obscura que habita as nossas malas! Mas como todo o privilégio pressupõe um mérito, nós queremos indagar qual o mérito da Srª. D. Eugénia e procuraremos desde logo alcançá-lo para nós mesmos e para todos os nossos concidadãos pondo assim a nossa roupa branca e a roupa branca daqueles que amamos ao abrigo das instituições!”.
Eça de Queiroz, in “Uma Campanha Alegre”; excerto publicado na ALFÂNDEGA Revista Aduaneira nº 26, 1991