Museu dos Transportes e Comunicações

Relógio da «Reguladora»

Relógio: instrumento de vários formatos que marca as horas, os minutos...

22 de julho, 2021
ML António Chaves - Relógio
É utilizado como medidor do tempo desde a Antiguidade

A humanidade conta o tempo desde tempos imemoriais. Épocas existiram em que o tempo era baseado na relação entre o Homem e a Natureza, um ciclo que se repetia em cada estação e em cada lugar.
Todos temos os nossos mecanismos do tempo. Uns levam-nos para trás e designam-se memórias. Outros levam-nos para o futuro e chamam-se sonhos. Mas nenhum mecanismo está tão intimamente associado ao contar do tempo como o relógio. A invenção do relógio trouxe consigo um novo conceito de tempo, um tempo linear e artificial baseado numa construção social e que modificou de modo permanente a noção de espaço.

Existem relógios de todos os géneros. Os relógios certos e os atrasados. Os relógios parados e os adiantados, relógios com e sem ponteiros. Existem até relógios que andam ao contrário (O tempo ao contrário – Crónica Urbana British Bar, Lisboa, in Revista 2 Jornal PÚBLICO 12 abril 2015). Muitas são as expressões associadas ao contar do tempo: fazer horas, enganar as horas, falta de tempo, meio tempo, matar o tempo, tempo morto, de tempos a tempos, no tempo dos afonsinos...

O relógio que agora destacamos da Coleção Aduaneira foi fabricado pela Reguladora. Data de 1892 a fundação, no Porto, da empresa relojoeira S. Paulo & Carvalho que viria a ser a génese da Boa Reguladora. Em 1895 regista-se a mudança da empresa para Calendário – Vila Nova de Famalicão e a diversificação da produção: relógios de mesa, relógios de parede, de caixa alta, despertadores. A partir de modelos americanos a empresa portuguesa produzia praticamente todos os componentes dos relógios empregando centenas de operários. A Boa Reguladora foi responsável pela produção de grande parte dos históricos relógios das estações de comboios da CP bem como de inúmeros modelos domésticos que, ainda hoje, se encontram nas nossas casas.

Para Vila Nova de Famalicão esta empresa teve uma importância crucial não só em termos de empregabilidade da população local mas, por exemplo, ao nível da introdução da energia elétrica na região possível pela importação de uma máquina a vapor. Após resistir a revoluções, conflitos mundiais e mudanças de regime a única fábrica de relógios portuguesa não conseguiu fazer face à concorrência dos relógios produzidos na Ásia.

Atualmente, alguns antigos colaboradores desenvolvem esforços no sentido do relançamento da marca Reguladora dando, assim, continuidade à tradição desta histórica marca nacional.

O relógio que se destaca como peça do mês integra a exposição permanente “Metamorfose de um Lugar: Museu das Alfândegas”. Num espaço nobre do segundo piso do edifício, com forte ligação visual ao Douro, peças de mobiliário, instrumentos de trabalho, fardamentos, imagens e documentos bibliográficos diversos compõem a exposição e guardam a memória de rotinas, de sons e vivências de outros tempos, os tempos em que o negócio se legitimava pelo poder da imposição do selo. O quotidiano aduaneiro corporiza-se agora no vislumbrar das coisas, no guardar cioso do numerário, na marcação do tempo, na prova de registo oficial, na verificação de pesos e medidas das “fazendas” ou no escrever e contar mecanizados nas respetivas máquinas.

Nesta exposição, o Museu, na senda do pensamento de Michel Foucault, é uma heterotopia, capaz de justapor num único espaço real vários tempos e espaços. Com o tempo a Alfândega do Porto acolheu o Museu dos Transportes e Comunicações, um lugar de herança e memória do tempo prévio, uma reflexão sobre o tempo presente e um contributo para o tempo vindouro. Tempo é também um elemento que o Museu disponibiliza ao seu público. Tempo para preservar e comunicar as coleções. Tempo para acolher e acompanhar cada visitante. Tempo para ouvir e partilhar. Sem os seus públicos o Museu seria uma perda de tempo!

A exposição “Metamorfose de um Lugar: Museu das Alfândegas”, abre ao público de terça a sexta (10h às 13h e 14h às 18h) e é de acesso gratuito (exceto visitas de grupo orientadas).

Ficha Técnica
Relógio em caixa circular de madeira castanha e vidro, com a inscrição “Reguladora”
nº inv. D.2005.12.128